"Porque se anuncio o Evangelho é porque isto me é imposto como uma obrigação..."
I Coríntios 9:16
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Era um pregador dos verdadeiros. Não vivia do Evangelho, mas vivia para o Evangelho, com grande empenho e dedicação.
Durante o dia trabalhava no seu ofício de pintor de construção civil, coberturas, reparações diversas. À noite, quando não estudava e se preparava até tarde, fazia visitas, conversava com os crentes, aconselhava, congregava, com grande amor. Era mesmo um pastor de coração, embora lhe faltasse o "glamour", o polimento, as ironias que nunca aprendera a usar. Faltava-lhe as manhas do pastor formado artificial. Ele era natural.
Naquele dia, o trabalho não correra bem! As coisas deram para o torto. Uma porta não "afinou", o verniz foi insuficiente, a carrinha não pegou à primeira e até foi a trabalhar mal até ao lugar do culto. Enfim, são dias!
Já nos anexos do auditório, lavou-se, mudou de roupa, alisou o cabelo, releu a mensagem vinte vezes preparada, fez oração e predispôs-se a enfrentar o auditório da noite, que, não sendo grande, era selecto e normal. Lá estavam os irmãos da metalurgia, os crentes da fábrica, a equipa dos escritórios e, até, o reduzido grupo dos selectos.
No fim, todos cumprimentaram o esforçado pregador, tendo uma palavra de gratidão e amor, pois o esforço era grande e o Espírito do Senhor operara na maioria.
Contudo, um dos engravatados da praxe, não tendo nada para dizer, mas querendo deitar faladura, disse: - gostei do sermão, mas, para a outra vez, veja se tem mais cuidado em tirar toda a tinta das unhas!
- Ah... sim, meu irmão, é porque esta tinta é de muito boa qualidade e não sai com a saliva, nem mesmo dos sabugos...